Maria, Maria

A Mítica Mãe Virgem

Imaculada Enganação

Jesus Never Existed –  Imaginary Friend


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Kenneth Humphreys

 


21.01.15

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Ísis – Mãe de Deus

Ísis e Criança – protótipo da 'Mãe de Deus'

 

 

 

Mãe e Filho, estilo romano

Magna Mater (Óstia, Roma).

Cibele, a Grande Mãe com seu filho Átis

Átis castrou a si mesmo, sangrando até morrer, e, depois de 3 dias, foi restaurado à vida como uma árvore. Daí, um festival de fertilidade na primavera.

Parece familiar?

 

 

 



Vesta – Protetora de Roma

Sendo a antiga e eterna guardiã de Roma e de seus governantes, Vesta, naquela época perigosa, recebeu mais veneração do que nunca.'

– Michael Grant, The Climax of Rome, p168.

 

 

 

 

 

Ísis virou cristã!

'Madona' Cóptica do Faium, Egito.

 

 

 

 

Foi aqui? (Lenda grega)



Poço de Maria, Nazaré

 


Ou foi aqui?
(Lenda católica)


Gruta de Maria, Nazaré


Uma confusão quanto ao lugar onde o anjo Gabriel anunciou a gravidez divina!

 

 

 

 

 

 

Última Casa de Maria, Éfeso?

Maria tem uma casa no topo de uma montanha perto de Éfeso.

Aparentemente, foi construída pelo apóstolo João.

Um baita pescador.

 

 

Tumba de Maria, Jerusalém?

As fundações da Igreja datam do século V, embora o padre franciscano Bagatti (vide Nazaré) disse ter encontrado evidência de um cemitério do século I. Pode apostar que ele encontrou.

 

 

Outra cripta de Maria?

Será que a garota já não tem lugares de descanso final suficientes? Cripta debaixo da Abadia da Dormição.

 

 

 

 

 

Rainha Virgem

"De fato, foi após a Segunda Guerra Mundial que o culto da Virgem chegou ao apogeu.

Em 1950 a assunção do corpo de Maria ao céu se tornou dogma; em 1945 Pio XII a tinha proclamado Rainha; enquanto em 1964 – depois do início do Segundo Concílio do Vaticano – ela se tornou Mater Ecclesiae ...

Essas coisas nos dizem muito sobre o papel de mulheres na cultura patriarcal."

– D. Hampson, After Christianity, p175/6.

 

 

 

 

 

"Nossa Senhora de Guadalupe"



Que Garotona! Maria convenientemente apareceu em 1531 para ajudar os conquistadores assassinos.

Ela apareceu a Juan Diego quando parecia que a Igreja estava fazendo muito pouco progresso com os nativos do Novo Mundo."

– Roy A. Varghese (God Sent, p44)

Uma aparição na hora certa – e uma boa dose de terrorismo violento – proporcionaram a conversão de 8 milhões de Astecas.

 

 

Mamãezona

Maria gigante sobre um pequeno Cristo – (século XVII, Peru)

 

 

 

 

Hail Maria!

A "Saudação angélica" (a "Ave Maria" ou oração para Maria) se espalhou no século XII.

 

Freiras marcham atrás de nazistas croatas (inspiradas por Maria?)

 

 

 

 

 

*Canção de Ana

"Ana pronunciou esta prece: Exulta o meu coração no Senhor, nele se eleva a minha força; a minha boca desafia os meus adversários, porque me alegro na vossa salvação. Ninguém é santo como o Senhor ..

Quebra-se o arco dos fortes, enquanto os fracos se revestem de vigor... os famintos são saciados: Sete vezes dá à luz a estéril, enquanto a mãe de numerosos filhos enlanguesce.

O Senhor empobrece e enriquece; humilha e exalta.
Levanta do pó o mendigo...

Ó Senhor, sejam esmagados os vossos adversários!"

(1 Samuel 2.1,10)

 

 

 

 

 

 

 

 

De Mera Sombra a Rainha dos Céus

Quem?

As escrituras podem ter pouco a dizer sobre Jesus; elas têm ainda menos a dizer sobre sua suposta mãe. Para os primeiros cristãos, 'Maria Mãe de Jesus' quase não existia: eles não estavam interessados na natividade do seu homem-deus – o que importava era o seu renascimento após a morte. Paulo não menciona Maria (ou José), e a figura misteriosa de Maria nos evangelhos, destinada a se tornar a mais preeminente de todos os santos e a Rainha do Céu, no máximo é um zero à esquerda.

Nas lendas dos evangelhos, 'Maria' aparece em algumas cenas. Em todas elas, ela é uma personagem passiva, habitualmente em segundo plano e praticamente sem voz (ela fala três vezes ao todo, duas vezes em uma única sentença). Ela não é descrita (mas também não o é nenhuma das personagens dos evangelhos!); nem sabemos sua idade. Ela aparece principalmente 'presenciando' eventos. Não sabemos nada sobre suas origens, exceto pela conexão familiar com a prima Isabel e pela promessa de casamento a José. Ela aparece primeiro na assim chamada 'Anunciação' (no poço ..?) quando um anjo delineia a futura carreira dela. Sem pestanejar, ela aceita seu papel 'abençoado' revelado a ela (Lucas 1.38) e corre passar três meses nas montanhas com a então grávida Isabel (a que será mãe de João Batista). Nisto, a maior cena dela, Maria diz sua única fala essencial (e que articulação num momento tão assombroso como esse!) – a assim chamada 'Magnificat':


Minha alma glorifica ao Senhor,
meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador.
porque olhou para sua pobre serva:
Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.
porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso;
e cujo nome é Santo.
Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.
Manifestou o poder do seu braço;
desconcertou os corações dos soberbos.
Derrubou do trono os poderosos,
exaltou os humildes, saciou de bens os indigentes;
e despediu de mãos vazias os ricos.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia;
conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.
(Lucas 1.46,55)


Só Deus sabe quem também estava no quarto (ou era uma caverna? ) para registrar tudo isso! Talvez ela escreveu suas memórias. (Na verdade, o trecho é uma óbvia adaptação da canção de Ana em 1 Samuel 2). Mas depois desse solilóquio, Maria não tem uma palavra mais a dizer. Ela presencia visitas de pastores e reis magos e 'medita' (Lucas 2.16); ela é levada ao Egito (Mateus 2.13.18) e trazida de volta à Galileia; ela fica admirada quando seu filho de doze anos diz ser o messias (Lucas 2.48,52); ela presencia a transformação de água em vinho (João 2.1,12); ela é rejeitada pelo seu filho que agora é um astro famoso (Lucas 8. 19,21); ela presencia a crucificação dele (João 19.25,27); e ela espera pelo espírito santo (Atos 1.14). Seu destino final não é revelado e a ela não é atribuído nenhum papel na criação da Igreja cristã.

 

Modelo Pagão

Mas em cima desse rascunho, logo uma personagem completa foi desenvolvida pelos 'criativos' escribas cristãos. Deuses pagãos, muitas vezes, eram supostamente filhos de deusas virgens – comumente como resultado da fecundação por um raio de sol. O deus-sol resultante era desenhado como um bebê no colo da mãe – assim como a 'Virgem com o Menino Jesus'! Essa iconografia é encontrada do Egito até a China. A deusa virgem dos romanos, Vesta, era servida por mulheres que mantinham sua chama eterna e mantinham-se castas por trinta anos.

Esse feito foi ofuscado consideravelmente pela 'Maria' dos cristãos pelo duplo fato de ser mãe de um deus e manter sua virgindade por dois milênios! Mas levou alguns séculos de invenção de histórias criativas para que toda a parafernália dos mitos pagãos fosse fundida no mito cristão.

A 'biografia' de Maria foi desabrochando ao longo dos séculos mais ou menos como um eco da vida previamente inventada do super-herói ilustre. Alguns dos primitivos escritores cristãos, como Justino e Irineu, alçaram Maria à categoria de 'segunda Eva', sua 'obediência' tendo revertido o pecado da jardineira original.

Justino 'Mártir', um grego da Palestina que tinha fugido para Éfeso na época da revolta de Bar Kochba, adotou com prazer o embrião do cristianismo que ele encontrou na cidade. Mas o entusiasmo de Justino veio com uma prévia familiaridade de clássicos gregos. Na sua cidade adotada, cultuava-se a deusa da lua Ártemis (chamada de Diana pelos romanos), que por um milênio tinha sido a eternamente virgem protetora da juventude, castidade e fertilidade. Nesse processo, a cidade tinha se tornado um abastado local de peregrinação – os primeiros banqueiros do mundo foram os sacerdotes de Ártemis.

 

Torna-se uma Virgem

Justino começou a infundir ao seu cristianismo aspectos do culto rival. Apesar da oposição dos cristãos 'estabelecidos', Justino insistentemente enfeitava a minúscula história bíblica de Maria com a ideia de que Maria era virgem quando deu à luz. Essa crença, como ele mesmo admitiu, era baseada apenas nas 'predições feitas pelos santos profetas', em outras palavras, o notório erro de tradução em Isaías 7.14 (onde a palavra 'virgem' foi usada no lugar de 'mulher jovem'; vide: Mentindo por Deus – A Fraude do Nascimento de uma Virgem) encontrado na Septuaginta. No contexto em que o cristianismo nascente estava competindo com uma fé muito mais antiga, não é de surpreender que os seguidores de Cristo acabaram ficando com o 'Nascimento de uma Virgem'. A vinda 'milagrosa' fornecia uma resposta útil aos primeiros críticos dos cristãos, os quais sugeriam que, se Jesus tivesse mesmo existido, ele tinha uma filiação bem duvidosa.

A próxima contribuição significativa à lenda de Maria veio em meados do século II, com o assim chamado Protoevangelho de Tiago', um documento tão claramente fictício que foi rejeitado até pela Igreja Católica desde a Renascença.

Mesmo assim, essa baboseira piedosa é a base de muitas das crenças atuais sobre a Santa Virgem, fornecendo informações como os nomes dos pais e avós de Maria, uma história de sua infância prodigiosa ("deixada no Templo aos três anos de idade" – um evento sem precedentes nos costumes judaicos!); sua resolução em manter-se virgem ainda nova (por quê? – ela sabia o que aconteceria?); conversas diárias com anjos; e um casamento 'seguro' na puberdade com o velho viúvo José. Com essa 'história' enfeitada, Maria começou a se tornar uma mediadora, mais acessível do que Cristo devido à sua feminilidade 'humilhante'. Representações artísticas dela começaram a se proliferar, estranhamente parecidas com o protótipo em que eram baseadas – Ártemis, a deusa que tinha sido então um sucesso de marketing por mais de mil anos!

Um século depois, o 'Evangelho da Natividade de Maria' (bem, nunca temos evangelhos que chegam, né?) adicionou mais detalhes. Essa história do nascimento de Maria, segundo a qual ela nasceu dos já idosos Ana e Joaquim, simplesmente é a história reescrita do nascimento de Samuel, cujos pais eram Ana e Elcana, encontrada em 1 Samuel. Mas com essa história ficamos sabendo de maravilhas como os sete casamentos da avó de Maria. Seis maridos foram despachados pelo Senhor porque sentiram lascívia ao fazerem sexo. Ainda bem que o sétimo ficou inerte durante o ato pecaminoso, caso contrário não teríamos Ana, Maria, Jesus e todo o resto!

 


E Continua Virgem

Apesar de os evangelhos afirmarem claramente que Jesus tinha quatro irmãos e duas irmãs (que não são nomeadas), os teólogos de Cristo se dispunham a argumentar que a "pureza" virginal de sua deusa não foi comprometida: ela tinha, eles insistiam, continuado virgem durante todo o processo de nascimento.

"No século IV, tornou-se notável a ideia de que o hímen de Maria tinha permanecido intacto durante o nascimento de Jesus... A virgindade 'in partu' de Maria foi um assunto comentado por todos os grandes teólogos do período."

– D. Hampson, After Christianity, p189.


À medida que se difundia a doutrina da 'virgindade perpétua' de Maria, também se difundia a confusão entre os teólogos sobre os supostos irmãos e irmãs de Jesus. Eles tinham que harmonizar-se com o novo dogma, então 'irmãos e irmãs' virou 'primos, filhos do padrasto', etc..

O século IV foi particularmente favorável ao crescente culto de Maria, em grande parte graças às atividades itinerantes da Imperatriz Helena. Como mãe de Constantino, ela provavelmente sentia uma afinidade particular com a mãe original de um Senhor do Mundo. Helena efetivamente inventou a 'arqueologia eclesiástica' (ou pelo menos a indústria da criação de santuários).

Em todo lugar aonde ia na 'Terra Santa', ela encontrava 'evidência' de Cristo e ordenava a construção de igrejas no local: a gruta da natividade (ou era o que os moradores diziam), o local da última ceia (ou era o que os moradores diziam), o jardim do Getsêmani (ou era o que...), o morro da crucifixão, a tumba vazia, a própria cruz, até a mesma árvore da qual foi cortada a madeira! E claro, Helena 'encontrou' o mesmo local (uma gruta) em Nazaré onde o anjo Gabriel tinha feito sua 'anunciação' a Maria. Como todos os outros santuários, logo começou a receber patrocínio imperial e uma lucrativa peregrinação. Com o santuário, veio um festival de Maria, a 'Anunciação'. Infelizmente para a cidade de Cafarnaum – supostamente o local principal do ministério de Jesus – Helena não chegou lá – e a cidade ficou perdida na história!

 

Imaculada Enganação

No século V, o Concílio de Éfeso (431 dC) concedeu a Maria o título de 'Theotokos' ('Mãe de Deus').

"A melhor proteção contra heresia cristológica foi a afirmação e veneração de Maria como Theotokos." 

– Varghese, God Sent, p43.

Em outras palavras, esta foi uma tentativa de parar a interminável especulação sobre o quanto o divino carpinteiro tinha de humano e o quanto tinha de deus. Ele era Deus, nada menos do que parte da "Trindade", e Maria era sua Mãe.



A "Trindade" coroa Maria "Rainha do Céu."

Quantos Deuses estão aí?

Éfeso, claro, há tempo era a casa da Mãe de Deus, apesar de que durante esse período ela se contentava em ser chamada de Cibele, a mãe e amante do deus Átis, o qual morria e renascia. No período romano, a Cibele frígia foi fundida com a grega Ártemis. Com um pouco de profanação e reconstrução, a indústria da santidade continuou como de costume.

Os romanos bizantinos tinham uma afeição especial pelos rituais e insígnias da corte, e Maria como uma rainha, com coroa, cetro e tudo, agradava muito mais aos gostos imperiais do que uma mulher camponesa obscura. Como o próprio Jesus, ela tinha 'entrado para a realeza' e foi alçada à categoria de santa. No século VI, o Concílio de Constantinopla (553 dC) endossou como dogma a "virgindade perpétua" de Maria. Parece que a "pureza" da virgindade é mais próxima da "pureza" de Deus.

 

Uma ou Duas Mortes

Os primeiros quatro séculos do cristianismo são silenciosos com relação ao fim da Santa Virgem. Mas depois do Concílio de Éfeso surgiu uma 'tradição' que, seguindo as instruções de JC na cruz, o discípulo João levou Maria a Éfeso – surpresa, surpresa! – e tinha construído uma casa onde ela passou o resto de seus dias. Glória ao Senhor, você ainda hoje pode visitar essa casa!

"Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa."

– João 19.26.27.


Enquanto isso, uma 'tradição' rival sobre a morte de Maria tinha se estabelecido em Jerusalém e lá eles tinham uma tumba vazia para prová-la, localizada no Vale do Cédron, nas encostas do Monte das Oliveiras, e conveniente para peregrinos. Essa alegação foi contestada pela extravagante Abadia da Dormição, construída no outro lado da cidade pelo Kaiser no início do século 20. Novamente a 'tradição' ali sugere que os primeiros peregrinos consideravam o lugar como sendo onde Maria 'dormiu'.

No século VII, escritores criativos tinham substituído o final sem-graça da história de Maria com algo bem mais satisfatório. João Damasceno (junto com Gregório de Tours) desenvolveu a ideia de que o corpo físico de Maria (e não apenas seu espírito) tinha 'subido' ao Céu (novamente, fazendo um paralelo com a carreira do seu filho ilustre). João viveu em Damasco e sua inspiração bem que pode ter sido a afirmação feita pelo recém-criado islamismo de que Maomé tinha 'ascendido ao céu', supostamente no ano 620 (Qur'an, surah 17.1).

A doutrina da Assunção de Maria foi definida como dogma apenas em 1950 pelo Papa Pio XII. No seu Munificentissimus Deus, o papa deixou em aberto a questão da morte de Maria, o que fez com que os católicos divirjam se Maria morreu antes de ter sido "assumida" ao céu e, se este foi o caso, se a alma dela chegou três dias antes de seu corpo. A Igreja Ortodoxa usa a palavra Dormição para o mesmo evento ridículo.

 

Subindo e Subindo

Em 787 os prelados e bispos reuniram-se novamente em Niceia. Um dos assuntos em pauta era continuar promovendo Maria. No início daquele século, com a pressão implacável vinda do Islã, dois imperadores – Leão III (717 - 741) e seu filho Constantino V (741 - 775) – tinham proibido a "idolatria" e sua infinidade de "ícones sagrados". Mas o "iconoclasmo" deles tinha prejudicado muito a renda de centenas de monastérios e santuários e tinha colocado a Igreja Ortodoxa contra a corte imperial. A Imperatriz Irene, atuando como regente de seu jovem filho Constantino VI, cedeu à pressão religiosa e convocou o 7º Concílio Ecumênico.

Esse Concílio endossou energicamente a aceitação de ícones, e em particular a adoração de Maria:

O Senhor, os apóstolos e os profetas nos ensinaram que devemos venerar em primeiro lugar a Santa Mãe de Deus, que está acima de todos os poderes celestiais. Se alguém não professar que a santa Maria, eternamente virgem, real e verdadeiramente Mãe de Deus, é maior do que todas as criaturas visíveis e invisíveis, e não implorar com fé sincera pela sua intercessão, haja vista seu poderoso acesso ao nosso Deus nascido dela, que seja um anátema."

–  Varghese, God Sent, p16.


Pelo século IX, Maria tinha quase sobrepujado o próprio homem-deus – e Maria podia ser o que a hierarquia da Igreja quisesse que ela fosse.

 

Sem Pecado

No primeiro escrito sobre o nascimento de Maria, ela não é mais 'imaculada' do que qualquer outra pessoa (e todos sabem que o pecado original é passado adiante pelo sexo). Todos os primeiros Pais da Igreja concordavam que apenas Cristo tinha nascido sem pecado. Eles não tinham dúvidas: Maria tinha sido uma pecadora. No entanto, como o útero de Maria representava um lar temporário para o super-herói em gestação, um útero maculado levantava dificuldades teológicas sobre pureza – isto é, se alguém fosse parar para pensar sobre essas coisas.

No século VII, o islamismo que se desenvolvia – e que adotou com prazer o "profeta Jesus", Maria e sua virgindade – deu sua própria contribuição à lenda fabulosa. De acordo com uma tradição de Maomé, toda criança recém-nascida é 'tocada' por Satanás. Mas para Maria e seu filho ilustre, Deus colocou no meio um véu protetor. Essa ideia de que Maria também não tinha pecado (e não apenas Jesus) infiltrou-se no catolicismo. Edward Gibbon escreveu:

" A igreja latina não hesitou em emprestar do Corão a imaculada conceição da mãe virgem. O Corão a insinua, e a tradição dos Sunitas a explica mais claramente. No século doze, a imaculada conceição foi condenada por São Bernardo como uma invenção presunçosa."


No século XIII, uma acirrada disputa de doutrina levou a brigas entre Dominicanos ('defensores da maculada') e Franciscanos ('defensores da imaculada'). O problema nunca foi completamente resolvido até o século XIX, quando o papa autocrata Pio IX endossou o dogma da 'imaculada conceição' como primeiro passo em direção à 'infalibilidade papal'.

Apenas em 1854 o mundo pôde ter certeza de que Maria tinha sido 'concebida normalmente porém sem pecado'! Até então, a 'virgindade perpétua', a baboseira desenvolvida por Jerônimo e Atanásio no século IV, tinha sido suficiente para garantir a pureza de Maria.

Já uma deusa, não é surpreendente que Milagres de Maria apareciam frequentemente durante toda a Idade Média (e aparecem até hoje!) Menos do que Deus mas consideravelmente mais do que humana, abençoada como mulher de infinita 'humildade', ela era vista como uma intercessora à qual os meros mortais podiam apelar sobre 'pequenas causas'. Ela era, simplesmente, a mulher mais importante que já tinha vivido.

O culto já não podia ser vencido. Enquanto a maioria dos santos tinha apenas um dia festivo ou consagrado, a Santa Mãe tinha um a cada poucas semanas e sua própria capela em cada igreja cristã. Chegou a um ponto em que a própria Igreja Católica teve que parar com a fantasia vertiginosa lembrando os fiéis que Maria devia ser vista como 'completamente dependente do Filho'. Mas ainda era demais para os protestantes da Reforma. Nas mãos deles, Maria foi reduzida mais uma vez a um papel passivo e obediente, um vulto, em segundo plano.

Definida por sua virgindade, louvada por sua humildade e submissão sem limites, ela é a mulher idealizada dos fanáticos misóginos, nas próprias palavras dela uma 'serva (isto é, escrava) do Senhor'.

 

 

Rainha Maya Com o Bebê Buda.
Gandara, Século II
(Museu Britânico)

 

Santo OVNI!

Maria inaugura companhia de ponte aérea entre o Céu e a Terra


Em momentos oportunos, a Rainha do Céu tem se dignado a fazer uma aparição para ajudar os fiéis. Já no século IV ela apareceu ao Papa Libério com a mensagem: "casais sem filhos devem deixar seus bens com a Igreja." Que coisa mais conveniente!

Na Inglaterra do século XI ela aparentemente transportou a Senhora Richeldis de Faverches até Nazaré e então auxiliou na construção de uma cópia da "casa de Jesus" em Walsingham, que atraiu peregrinos de todas as partes da Europa até que foi fechada por Henrique VIII.

Como "Nossa Senhora de Guadalupe" ela ajudou os espanhóis a conquistarem as Américas (não interessa o derramamento de sangue, olha que casaco bonitinho!)

Aparições modernas se seguiram à derrota de Carlos X da França, que tinha tentado restaurar os privilégios da Igreja perdidos com a Revolução Francesa. Na Paris de 1830, milhões de unidades de uma "Medalha Milagrosa" de Maria foram vendidas aos ingênuos. Respondendo ao crescimento do racionalismo francês, Maria apareceu de novo aqui e acolá: La Salette em 1846, Lourdes em 1858, Pontmain em 1871. No século seguinte ela se mudou para Portugal e depois para a Bélgica.

Que garotona! Enquanto antigos impérios colapsavam na Europa e a Rússia estremecia com a Revolução, 'Maria' apareceu em Portugal e fez o sol balançar!


Acredite ou não, ela recentemente passou um tempo na Bósnia (parte da missão de paz das Nações Unidas?) onde,

"Em termos da conversão dos não crentes, Maria tem exercido um impacto maior... do que qualquer outra aparição na história exceto a de Guadalupe." Varghese, God Sent, p66.

 

Virgem e bebê, posando para a câmera, 3 de setembro de 1989 em Karacsond, Hungria

Aparecendo todos os dias, Disney World, Flórida

 

 

A Santa Virgem Maria – Uma Santa para Todas as Épocas

O fantasma de uma 'Mãe Santa' tem se mostrado muito rentável para a Igreja de Roma, mais tangível do que o 'Espírito Santo' (o qual é um pouquinho complicado para a iconografia) e mais acessível do que o Cristo Todo-Poderoso.

Desde o século IV, quando roubaram a 'feminilidade sagrada' para a causa do catolicismo, os agentes papais têm moldado a Santa Virgem em um instrumento maleável da política católica. 'Maria' foi, e continua sendo, a 'Palavra' da hierarquia católica, uma protagonista adaptável e conveniente das políticas da Igreja, livre não apenas das leis do universo físico como também das restrições do ensinamento evangélico.

Toda vez que um santo local estava faltando ou em dificuldades, a Santa Virgem fazia uma aparição na hora certa, reunindo os crentes e deixando os céticos mais céticos ainda.

Que Garotona!

 

Bibliografia::
Graham Phillips, The Marian Conspiracy (Sidgwick & Jackson, 2000)
Marina Warner, Alone of All Her Sex (Picador, 1976)
John Shelby Spong, Liberating the Gospels (Harper, 1996)
John Shelby Spong, Born of a Woman (Harper, 1992)
Robin Lane Fox, The Unauthorized Version (Penguin, 1991)
Leslie Houlden (Ed.), Judaism & Christianity (Routledge, 1988)
W.H.C. Frend, The Rise of Christianity (Darton, Longman & Todd, 1984)
Riane Eisle, The Chalice & the Blade (Harper Collins, 1987)
Ruth Harris, Lourdes: Body & Spirit in the Secular Age (Allen Lane, 19990
Roy A. Varghese, God Sent - A History of the Accredited Apparitions of Mary (Crossroad, 2000)

 

 

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